Como escolher o formato adequado das publicações digitais para dispositivos móveis

Como escolher o formato adequado das publicações digitais para dispositivos móveis

Após o boom da internet que aterrorizou a indústria gráfica/editorial no inicio dos anos 2000 propagando o fim (ou melhor, uma intensa redução ) da utilização do papel na comunicação, o mercado gráfico/editorial viveu anos de restruturação, devido a queda das tiragens e anunciantes, contudo estavam aliviados pois se conseguiu certo equilíbrio entre web e impresso. Este cenário se manteve até dezembro de 2010, com o lançamento, no Brasil, do tablet iPad.

Neste momento cabe uma reflexão: porque só jornais, revistas e livros continuariam analógicos, sendo produzidos e distribuídos da mesma forma há décadas, enquanto todas as demais mídias migraram para o digital? No caso da música essa migração ocasionou uma reforma na distribuição desse tipo mídia. Vídeos e filmes já caminham a passos largos nesta direção, enquanto fotos são compartilhas todos os dias pelas redes sociais. Pois bem, a mídia impressa (leia-se o papel) até que resistiu bem, mas encontrou um contra tipo a altura com a chegada do tablet.

A versão digital das publicações não é totalmente uma novidade. Há anos muitos títulos usam o PDF (com ou sem interatividade) como opção digital, através de plataformas específicas como por exemplo, a Issuu e Zinio, ou distribuídas pelo próprio site da empresa. A questão é que a leitura em tela, neste momento me refiro aos desktops e notebooks, nunca foi uma tarefa agradável para a maioria dos usuários. Até hoje, muitas pessoas cultivam o hábito de imprimir relatórios e artigos para poder rabiscar, marcar, anotar, etc. Enfim, poder, de fato, interagir com a publicação e leva-la consigo para onde quiser – a tal mobilidade.
O quadro abaixo compara as três principais características de uma publicação impressa e digital, na era do PDF.

  Papel Digital em PDF
Distribuição Cara, local, e ineficiente, dependendo de terceiros. Instantânea, global e sem custos elevados.
Produção Custos de papel, impressão, estoque e mão-de-obra Conversão da publicação impressa.
Comercial Modelo de negócio estruturado e conhecido Modelo de negócio em construção e experimental

Dentro desse cenário as publicações digitais em PDF nunca convenceram e durante anos foram utilizadas como um subproduto do impresso, apenas como mais uma opção de distribuição sem agregar recursos realmente impactantes. Como a leitura é realizada apenas em computadores, mantendo o layout da versão impressa e muitas vezes oferecendo uma usabilidade sacrificante e com nenhuma mobilidade. Esse modelo de distribuição não tinha como concorrer com a tradição dos impressos.
Antes do iPad podemos comparar os prós/contra de cada mídia, em relação da usabilidade e recursos, conforme a tabela abaixo.

  Impresso Digital (antes do iPad)
Prós
  • Experiência multissensorial: visão, tato, olfato.
  • Fácil de transportar.
  • Acesso imediato.
  • Experiência interativa básica.
Contra
  • Não busca o texto.
  • Ocupa espaço.
    Esforço e tempo para a compra.
  • Pouca mobilidade.
  • Precisa de bateria/energia.
  • Desconfortável.

 

  Impresso Digital (depois do iPad)
Prós
  • Experiência multissensorial: visão, tato, olfato.
  • Fácil de transportar.
  • Acesso imediato.
    Experiência interativa básica.
  • Excede o limite da página.
  • Experiência interativa de alto impacto.
  • Uso de 2 layouts.
    Touchscreen – dispensa o uso do mouse.
  • Total mobilidade.
Contra
  • Não busca o texto.
  • Ocupa espaço.
    Esforço e tempo para a compra.
  • Precisa de bateria/energia.

Com o lançamento do iPad os benefícios das versões digitais aumentarem e reduziram-se as limitações tornando esta opção bem mais atrativa, reforçado pela carga de inovação e impacto visual dos recursos de interatividade disponíveis no tablet.
O uso crescente dos tablets (e antes dos e-Readers, que são dispositivos específicos para a leitura em tela) popularizou a termo e-book para definir as atuais publicações digitais. Contudo outro termo vem ganhado destaque neste cenário – aplicativo, ou simplesmente, app.

Desde 2009, estou atuando no mercado de publicações digitais, incialmente com o formato EPUB e a partir de 2011, com o formato Folio para tablets. Durante os treinamentos e consultorias que realizo percebo muitas dúvidas de alunos e profissionais do setor editorial, além de uma grande dificuldade em decidir por um modelo ou outro, entendendo os reais benefícios e limitações, conforme o tipo de conteúdo disponível.
Por isso, apresento neste artigo o manual de uso das Publicações Digitais que servirá de guia para auxiliar na tomada de decisão de qual padrão deverá ser adotado – e-books ou apps, conforme as características de cada processo, bem como seus desdobramentos em formatos, modelos de negócio/distribuição e dispositivos compatíveis.

e-Book

e-Book – Electronic book é um termo genérico que pode ser aplicado a qualquer tipo de publicação digital. Trata-se do produto final e não define com clareza o tipo do documento, seus benefícios e limitações. A seguir, uma análise das possibilidades desse modelo de publicação digital.

Principais formatos de eBooks

PDF – Portable Document Format

Clássico formato digital é reconhecido por toda gama de dispositivos, contudo sua plena potencialidade ocorre em desktops e browsers, tanto em relação à usabilidade da leitura, bem como a aplicação de recursos interativos.Devido a sua característica de página fixa, o PDF não é indicado para leitura em dispositos móveis (celulares, tablets, e-readers), em especial, nos smartphones, devido ao tamanho reduzido das telas. Outra limitação está nos recursos interativos que, em sua maioria, não são reconhecidos por esses dispositivos.

EPUB – Electronic Publication

Formato desenvolvido pelo consórcio IDPF – International Digital Publishing Forum nasceu para suprir a lacuna deixada pelo formato PDF que não atende as novas necessidades de leitura nos dispositivos móveis.
Sua principal característica é possuir o conteúdo fluido, que permite sua fácil adaptação a diferentes larguras de tela, fato que não ocorre no formato PDF. Atualmente, na versão 2.0, é destinado para produção de livros, com predominância de texto, com suporte ao uso de imagens, tabelas e demais elementos de layout. Permite incluir hyperlinks, vídeo e áudio, mas poucos leitores reconhecem esses últimos recursos. Contudo, esse cenário irá mudar com a crescente adoção do EPUB 3, que inclui mais e melhores recursos de interatividade. Hoje, o formato EPUB possui duas variações que merecem um comentário.

EPUB de layout fixo

Este arquivo possui características semelhantes a um PDF possibilitando um maior controle dos elementos no layout, melhor suporte no uso de fontes embutidas e uso de fotos em tela cheia. Sua produção é mais trabalhosa, pois é necessário tratar cada página individualmente, mas o resultado final é compensador, já que possibilita o uso de CSS3 e javascripts.
Sua maior vantagem é continuar um formato EPUB e assim podendo ser distribuído pela iBooks store, na verdade, atualmente, apenas os dispositivos da Apple suportam EPUB de layout fixo. Vale destacar que encontra-se em andamento, no IDPF, um grupo de estudo sobre o layout fixo, o que abre a possibilidade de outros dispositivos e plataformas oferecerem suporte a esse tipo de EPUB.

iBooks Author

Recente plataforma de e-books lançada pela Apple, o IBooks Author permite a produção, no estilo drag-and-drop (faça você mesmo), de Enhanced Books [veja definição no box – O livro do futuro ], com um portfolio de recursos interativos numa interface organizada e intuitiva. Trata-se de uma plataforma fechada com distribuição apenas pela iBooks store. Para incluir os recursos interativos é preciso exportar o conteúdo no formato próprio do iBooks – .iba.

Outros formatos: doc, txt, mobi

Em última análise qualquer documento digital pode ser considerado um e-Book, até um arquivo do Microsoft Word. Dentre essas variações, o formato .mobi ganha destaque por ser o padrão utilizado pela maior plataforma de venda de livros digitais – a Amazon, através do seu leitor – Kindle.

Modelo de Negócio / Distribuição

O fluxo de produção dos e-Books propicia um modelo de negócio mais aberto e democrático, semelhante ao fenômeno ocorrido no mercado de música, hoje autores tem recursos técnicos e canais para distribuir sua arte – sejam em forma de música ou livros.

Certamente a relação entre editoras e autores foi alterada pelo livro de digital, equilibrando um pouco mais a relação de força entre os participantes deste mercado. Porém toda liberdade, também, traz novos desafios – a pirataria digital. Tema polêmico e que divide opiniões, o fato é que as principais editoras adotaram o DRM – Digital Rights Managent, como o guardião da propriedade intelectual na era do livro digital. O contraponto desse cenário democrático, protagonizado pelo formato EPUB, está na adoção por parte de grandes livrarias, como a Amazon, de um modelo fechado de distribuição e venda exclusivamente através de seu dispositivo de leitura – Kindle. E por falar em dispositivos…

Dispositivos

Os e-books sejam em qualquer formato são, sem dúvida, o tipo de publicação mais flexível atualmente, pois são lidos numa ampla gama de dispositivos, desde desktops até smartphones, passando pelos tablets e claro os e-Readers, que são específicos para esta função.
Em relação ao EPUB, muitos designers e editores acreditam que a relação formato x dispositivo seja flexível até demais, visto que a grande parte dos leitores alteram muitos elementos da formatação do EPUB, como: corpo e família da fonte, alinhamento, cor de fundo, entre outros.

O livro do futuro

Enhanced Books é um termo adotado no mercado para definir um tipo de livro com características distintas dos demais e-Books. A principal dentre elas é a própria narrativa da obra, que através de variados recursos de interatividade permite uma maior participação do leitor com a obra lida, através de toques, arrastos e movimento do tablet.

Baixe para o seu iPad exemplos de enhanced books – Alice-for-the-ipad e Fantastic Flying Books. Com exceção dos títulos produzidos pelo iBooks Author, a grande maioria dos enhanced books pertencem , na verdade, a outro modelo de publicação digital – mais recente neste cenário e introduzido exclusivamente pelos tablets – trata-se dos aplicativos. Leia sua análise a seguir.

Aplicativo (App)

Este item merece uma introdução mais detalhada. O coneito de app foi trazido para o mercado pela Apple, com o lançamento do iPhone 3G, que trouxe consigo a Apple App Store e revolucionou o mercado de celulares.
Produzidos com linguagem orientada ao objeto – Objective C, até então, a participação dos designers na produção de app era no desenho da interface. Contudo, este cenário mudou com a chegada do iPad (ele, novamente). Esse dispositivo de 9,7” abriu as portas das app stores para o mercado editorial.
Através da integração do InDesign com o Adobe Digital publishing Suite – DPS, estima-se um número superior a 1000 apps, entre revistas, jornais, catálogos, entre outros títulos já foram produzidos para as principais lojas do mercado – Apple e Android. Claro, grande parte desses apps são para Apple app store.

Leia relatório sobre a evolução da Apple app store para ipad

Principais formatos de eBooks

Folio

Na produção de conteúdo para tablets com InDesign e DPS o produto final será sempre um formato Folio (inicialmente chamado de issue), que corresponde a um pacote zipado (mesma estrutura do EPUB) de todo o projeto, contendo os arquivos de InDesign e seus vínculos com ou sem interatividade.

Trata-se de um formato proprietário da Adobe que deverá seguir os mesmos passos de seus primos mais antigos, como os formatos PostScript, PDF e Flash – todos se tornaram padrões em seus respectivos segmentos.
A versão atual do DPS, 1.9.1, permite uma serie de interações combinadas entre si, por exemplo: slideshow, imagem 360 graus, galeria de vídeos, áudio, texto e imagem em scroll, hyperlinks, botões e muito mais! Baixe o tutorial da dualpixel disponivel da Apple app store e Google Play

HTML 5

Oficialmente o término dos trabalhos do W3C para o lançamento da especificação do HTML 5 está previsto para 2014, mas o mercado já está adotando largamente este novo padrão. HTML 5 é suportado pelo DPS e pode ser utilizado tanto inserido na página do InDesign e/ou diretamente numa seção do projeto. Sua potencialidade está no fato de permitir o uso de outras tecnologias e assim, expandir o portfolio de recursos interativos da publicação, como o uso de javascripts e CSS3.

Web app

Este formato é produzido a partir de um documento HTML 5 sendo “embarcado”, inserido dentro de um aplicativo produzido por ferramentas como o Phonegap ou Sencha. Devido a carência de plataformas e editores de HTML 5 melhor adaptados as necessidades dos designers, a produção editorial com web app ainda se apresenta como uma opção muito trabalhosa e exigindo razoável conhecimento de javascript, além de linguagem orientada ao objeto.

Contudo é importante acompanhar a evolução deste processo, pois não tenho dúvida que novas ferramentas irão surgir no mercado, flexibilizando a produção de conteúdo editorial para tablets.

App Nativo

App nativo ou aplicativo nativo é aquele produzido a partir da linguagem e/ou IDE – Integrated Development Environment própria da plataforma/Sistema Operacional. No caso da Apple é a utilização do Xcode. Pensando no mercado editorial, em especial nas publicações periódicas, a opção de app nativo está longe de se tornar viável, devido a curva de aprendizado e custos elevados de mão-de-obra deste processo.

Modelo de Negócio / Distribuição

Semelhante ao modelo adotado pela Amazon e seu leitor Kindle, hoje grande parte do valor de um tablet depende da quantidade e qualidade (e a Apple preza muito por ambos) dos apps disponíveis na plataforma do tablet.
Não é por acaso que o iPad é referência no setor, pois possui uma tríade – quase, perfeita – Hardware, Software (iOS) e Apple app store.
Acredito que esse modelo de negócio fechado entre app store e tablet/smartphone ainda irá sofrer muitas mudanças, em especial com a entrada de outros players no mercado, como o Windows 8. É aguardar para ver.
Usuários da plataforma Adobe DPS, atualmente, só podem produzir conteúdo para tablets – Apple e Android. O suporte ao tablet playbook, da Blackberry, foi recentemente suspenso pela Adobe. Uma boa notícia é a possibilidade de visualizar o folio via iPhone e browser já no próximo release – 2.0.

Dispositivos

Apps são baixados e/ou comprados através das app stores e visualizados apenas via tablets e smartphones com acesso as suas respectivas lojas. Neste ponto os e-Books são mais flexíveis que os apps, pois são visualizados em praticamente todos os tipos de aparelhos – mobiles, desktops e browsers.

Guia de publicação para e-Books e Apps. Como escolher?

Produzido com base nas informações colocadas neste artigo, o guia de publicação visa auxiliar a tomada de decisão do formato mais adequado para os principais tipos de publicação, avaliando, cada formato, em três níveis de recomendação.
A escolha do formato da publicação digital é de total importância e irá definir outros aspectos fundamentais, como fluxo de produção, plataformas e distribuição.
Devido à variedade de elementos e características das publicações você pode chegar a conclusões diferentes, a ideia é apresentar um quadro comparativo e orientativo e nem tem a intenção de esgotar o debate sobre o tema.

 

e-books

Apps

Formatos

PDF

EPUB Layout Fixo iBooks Author Folio Web app
App nativo
Dispositivos devidesall devidesall devides-cel-tb devides-cel-tb tablet devides-cel-tb
Plataformas Todas (1) Todas (1) Apple Apple Apple – Android Todas (2)
Publicações            
Livro em geral.
texto / imagens
ok ok oknao medio medio medio
Livro técnico.
Tabelas e fórmulas
ok ok oknao ok medio medio
Livro de fotografias.
Viagem, culinária
ok medio ok ok ok medio
Livro Infantil.
Com interações (3)
oknao oknao medio medio ok ok
Apostilas/Manuais
Recursos básicos hyperlinks e video
ok ok oknao ok ok medio
Apostilas/Manuais
Com interações (3)
oknao oknao oknao ok ok medio
Catálogos / Relatórios Recursos básicos hyperlinks e video ok ok oknao medio ok medio
Catálogos / Relatórios
Com interações (3)
oknao oknao oknao oknao ok medio
Revistas.
Com interações (3)
oknao oknao oknao oknao ok medio
Jornais.
Com interações (3)
oknao oknao oknao oknao ok medio
Publicações em geral
sem interatividade.
ok ok medio medio medio medio

(1) PDF e EPUB são lidos em todas as plataformas desde desktops até mobiles. Deixo a ressalva para a leitura de PDF em celulares, pois oferecem pouca ou nehuma usabilidade devido a tamanho reduzido das telas.
(2) Web apps possuem maior liberdade de distribuição. Plataformas como Phonegap e Sencha podem produzir aplicativos para diferentes Sistemas Operacionais, como Apple, Android, Windows Phone, Blackberry, entre outros.

(3) Interações incluem vídeo, áudio, animação, slideshow, HTML5, javascript, panorama, 360, entre outros.

ok Recomendado – oferece a melhor combinação de recursos e distribuição do conteúdo.
medio Médio – pode até ser adotado, mas irá limitar a publicação em determinados aspectos. Por exemplo: em não utilizar a potencialidade de recursos do formato/plataforma; Produção por apenas um software; limita a um tipo de distribuição/plataforma; exige um fluxo de produção mais caro e demorado. Neste caso, uma análise mais detalhada é indicada, antes da decisão final.
oknao Não recomendado – o formato não atende as necessidades mínimas da publicação; o custo x benefício da produção não compensa.

Conclusão

O conteúdo é Rei. Note que conforme o tipo do conteúdo, layout e recurso interativo da publicação a escolha do formato de arquivo é crucial para atender as necessidades do projeto. Outros elementos também são afetados por esta decisão, como o fluxo de produção, plataformas, softwares, mão-de-obra, distribuição e venda. Pouca coisa, não?

Este é o primeiro de uma serie especial de 3 artigos que abordam o mercado de publicação digital, suas características, fluxos de trabalhos, formatos, recursos, entre outros itens.
No próximo irei descrever a plataforma Adobe Digital Publishing Suite com dicas especiais sobre publicação para tablets.

Até lá.

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