O Mulungu, uma experiência crossmedia

Há alguns anos que nós (CV Design Projetos de Comunicação) desenvolvemos uma diversidade de cartilhas impressas ilustradas para a Embrapa, entre elas, uma série sobre o Mulungu, árvore nativa da flora brasileira, parente do Pau Brasil.

No princípio, havia o impresso

No ano passado, a primeira ramificação desse projeto voltado para o público infanto-juvenil, até então exclusivamente gráfico, se fez presente na solicitação de um áudio-livro para a Série Amiguinhos, uma nova coleção que trata dos “amigos” do Mulungu, seres que, de uma forma ou de outra, contribuem para o crescimento e saúde dessa árvore.

Mulungu

Um áudio-livro

Por sorte, além de (web)designer, e dublê de desenvolvedor, sou também músico, versado na área de produção de áudio. Além disso, minha esposa é atriz e conhecia algumas pessoas envolvidas com dublagem e indicou o profissional exato para o trabalho. Experiente e ágil, Leonardo Santhos forneceu o audio bruto já gravado que eu tratei, editei e sequenciei no Pro Tools (nas primeiras cartilhas) e depois no Ableton Live, software que se mostrou mais apto para a tarefa, pela leveza e agilidade na manipulação do áudio.

As primeiras quatro cartilhas foram criadas somente com a narração brilhante do Leonardo. Mas o material agradou tanto que o cliente quis sofisticar o áudio-livro, incluindo vinheta musical e efeitos sonoros, o que me permitiu oferecer música original de minha autoria para o projeto (conheça meu trabalho como músico). Abaixo ouça um trecho do áudio book.

ePub3 de layout fixo

A etapa seguinte e deu no desenvolvimento de um ePub de layout fixo. Esta plataforma permitiu explorar o desenho do ilustrador Luiz Carlos Augusto dos Santos, com a intervenção do Fábio Marques na colorização das peças, em sincronia com o áudio já editado, com vinheta, narração e efeitos. Particularmente, tenho certo incômodo com editores wysiwyg. Normalmente o código sujo e confuso desses programas dificultam muito o debugging. Mas como a cartilha impressa havia sido feita no InDesign e todo o material de referência na Internet indicava o desenvolvimento do ePub3 no programa da Adobe, resolvi começar por aí. E a verdade é que o resultado foi tão bom e tão rápido que nem sequer me permiti espiar o código. Em uma manhã tudo estava pronto.

app-mulungu

O “bizu”

O cliente ficou muito satisfeito e me fez apenas uma pergunta: “não conseguiríamos fazer uma rolagem automática das páginas?”. Pensei por alguns segundos e respondi, “bem, vou checar a viabilidade técnica, mas acho que aí a mídia seria outra, migrando muito mais para uma espécie de slideshow, um vídeo simples.” Estava encaminhada uma nova ramificação do projeto.

Video? Porque não?

Mesmo sem ter background em edição de vídeo, pela simplicidade do projeto, me arrisquei a fazê-lo. Como tenho a assinatura do Creative Cloud da Adobe, instalei o Premiere Pro e, depois de alguns tutoriais, estava razoavelmente apto a fazer o trabalho. Usando o áudio master do ebook como guia da timeline, o vídeo foi produzido com relativa facilidade. Conheça aqui o resultado final.

Aplicativo híbrido

phonegap-platforms

Agora o novo desafio é o desenvolvimento de aplicativo híbrido para Android, Windows Phone e iOS, com HTML5, CSS3 e jQuery, utilizando um framework como o jQuery Mobile, Ionic e/ou o Phonegap para empacotamento.

Passaporte sempre em dia

Nesse projeto, me deparei com diversas fronteiras que eu nunca havia cruzado. Embora já tivesse gravado diversas músicas e feitos cursos na área, jamais havia trabalhado profissionalmente com produção de áudio e muito menos com vídeo. Já conhecia o tema ePub, mas não tinha ainda surgido a oportunidade de criar um ePub3 de layout fixo, utilizando animações e áudio em sincronia. E finalmente ainda não criei um aplicativo híbrido para ambientes mobile, mas a tarefa não é assustadora, posto que tenho boa base em HTML, CSS e JS. E vale dizer que uma vez codificado em HTML, CSS e JS o que você tem é uma web app pronta para ser publicada ser acessada diretamente em qualquer navegador.

Canivete suíço

canivete

O que você deve levar para si dessa experiência que relato? Nunca tenha medo de enveredar novos universos. Não se acomode com o que você faz bem. Seja curioso, especialmente se você não está em uma grande estrutura, uma agência em que cada um trata somente do seu pequeno nicho. E mesmo que esteja, é fundamental entender o processo. Além disso, em tempos difíceis como o atual, o profissional que tem o perfil de jack-of-all-trades é muito valorizado. Relutei muito em aprender código, utilizando como muleta o argumento de que eu era designer e não programador. Usando uma analogia forte, seria como, ao surgimento do papiro, o pintor rupestre retrucasse que desenhava apenas em pedras.

Não tenha medo do código

Anos atrás, ao fechar um projeto de um cliente com mais de 10 anos de relacionamento com minha empresa cuja partilha dos dividendos era 30-70 em favor do programador, este me deu a dica que eu nunca mais esqueci. Ele, biólogo de formação, disse, “eu já estive onde você está, mas eu não tenho medo do código”.

Lava mas não passa?

Nunca mais trabalhei da mesma forma. Respeito muito as áreas profissionais conexas, sei o meu limite, mas não transfiro problema (e dinheiro) por preguiça de entender cases prontos e gratuitos na web. Para isso, no entanto, a primeira etapa a ser vencida é uma sólida base em HTML e CSS. A seguir, conhecimentos de JS e jQuery. Essa é a caixa de ferramentas do designer digital na atualidade (com PHP e WordPress você ficará ainda mais vitaminado!). E sempre, sempre, se manter atualizado.

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Rafael Ortman

Músico, produtor e designer/desenvolvedor. Instrutor de softwares Adobe e HTML/CSS na dual pixel. Formado pela PUC-Rio, tem especialização em Design Estratégico na ESPM/RJ e é sócio da CV Design Projetos de Comunicação.

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