Quando o assunto é publicação digital a única certeza que temos é a mudança.
Lançado há quase 10 anos, o formato ePUB supriu o vazio deixado pelo PDF nos itens interatividade e usabilidade, para as publicações digitais.
E apesar de utilizar, em sua estrutura, os padrões web (HTML, CSS, XML, entre outros), mesmo assim, arquivos ePUB não são, nativamente, compatíveis com os navegadores.
Sendo basicamente um conteúdo web empacotado, não é algo natural, precisar de plug-ins e extensões para visualiza-los nos navegadores.
Desde 2013, o W3C acompanha a evolução das publicações digitais, em especial, do formato ePUB, através do Digital Publishing Interest Group, o qual tem como principal objetivo eliminar as barreiras que separam a leitura off-line (ePUB) e online (HTML5).
E um passo importante para esse objetivo ocorreu em 30 de janeiro de 2017, data que marca a união do IDPF (International Digital Publishing Forum) ao W3C (Word Wide Web Platform). Trabalhando de forma integrada há muito mais chances de avançar o formato ePUB para os padrões do Open Web Platform.
O novo endereço do formato ePUB é o Publishing@w3c, e o atual site do IDPF agora é um acervo histórico sobre a primeira fase das publicações digitais e o legado do ePUB.
Nos últimos anos, o W3C desenvolveu as diretrizes de um novo formato – Portable Web Publication (PWP), que será integrado a última revisão do IDPF – ePUB 3.1, o qual possivelmente se tornará o ePUB 4.0. Sem dúvida a maior atualização do formato, que irá remodelar, novamente, o mercado editorial, contudo, desta vez de forma ainda mais profunda.
O próximo formato seja ePUB 4, PWP ou qualquer outro nome vai permitir as editoras escolherem o modelo de distribuição (online e/ou off-line), facilitando o acesso e aumentando a compatibilidade entre os recursos e os sistemas de leitura.
Atualmente, um dos principais entraves do livro digital está na instabilidade dos sistemas de leitura, o que com frequência limita a produção e/ou distribuição dos projetos forçando editoras a buscarem outros meios de distribuição, através de aplicativos, por exemplo.
O próprio prêmio Jabuti para livro digital infantil nos dois últimos anos teve como finalistas apenas apps, não havia ebooks/ePUB concorrendo. Por que será?
Neste futuro cenário os leitores poderão comprar seus ebooks e momentos depois iniciar a leitura diretamente no navegador (Web Publication), e mesmo após perder o sinal do wi-fi continuar sua leitura, com todos os recursos disponíveis, como anotação, estilos e paginação.
E caso deseje, com um clicar de botão salvar o eBook (Portable Web Publication) como arquivo, mantendo, claro, acesso aos links, referências cruzadas, licenças e DRM. Enfim, o desafio é grande.
Leia também o artigo de Fernando Tavares, Mudanças ditam novos rumos para o formato ePUB
Dois mundos que se unem
“Books can learn from the Web how to be bounded, but open. The Web can learn from books how to be open, but bounded.”
Hugh McGuire, Medium, abril 2016
A adoção do formato ePUB avança para mercados além do editorial, incluindo setores da educação, governo e empresas, por isso o W3C pode contribuir fortemente no desenvolvimento de um formato, que permita um modelo de produção e distribuição, mais alinhado as diretrizes da Open Web Platform – gratuito, acessível e multiplaforma.
Bem como manter a colaboração com importantes grupos do setor – BISG, EDItEUR, DAISY, entre outros. Não se trata de um desenvolvimento do zero, visto que o ePUB 3 já utiliza os padrões W3C.
“É a era da Plataforma Aberta de Web. Mais do que rótulo de HTML5, as tecnologias ligadas à web vão sofrer uma revolução com os novos recursos agregadores de mídias, armazenamento e transmissão de dados. O mecanismo que hoje chamamos de browser vai se tornar a grande máquina virtual, que estará em todos os dispositivos”
Clécio Bachini, Open Web Platform, 2013, Brasport (ebook)
O que nos aguarda
A curto prazo não espero por mudanças continuaremos produzindo ePUB3, com InDesign, Sigil e editores de texto, com os mesmos canais para leitura e distribuição.
Mas em médio prazo teremos muitas novidades. O grupo de trabalho sobre Web Publication entrou no modo Editor’s Draft e atualmente apresenta os seguintes módulos:
- Open Web Platform – conjunto de tecnologias que viabiliza a produção e distribuição de conteúdo na web sem restrições.
- Web Publication – coleção de artigos organizados num único grupo que utiliza os padrões Open Web Platform para distribuição online.
- Package Web Publication – representa o Web Publication combinado num arquivo para distribuição off-line.
Como já citado a integração da experiência de uso dos eBooks entre online e off-line é um dos pilares do Web Publication. Contudo atingir essa meta representa uma quebra com os padrões do ePUB 3, e para evitar uma total incompatibilidade, já está em desenvolvimento o ePUB 4, que manteria a estrutura básica do ePUB atual, e assim permitindo uma transição mais suave.
Assim teremos a seguinte estrutura de formatos
O que leio no Working Group do W3C são opiniões divididas.
Se por um lado, o mercado editorial anseia por inovação, flexibilidade e novos modelos de negócio, ao começar um trabalho de renovação aliado à premissas que não atendem plenamente atuais demandas do mercado, não me parece um caminho promissor.
Por outro lado, os mais céticos temem a fragmentação do mercado digital (mais ?) ou seu enfraquecimento e batalham por uma linha de atuação mais próxima ao ePUB atual.
Diante deste cenário obscuro, consigo identificar alguns pontos de clareza.
Sob a chancela do W3C devemos entender (e aceitar) que o eBook/ePUB terá um direcionamento mais amplo, atendendo a diferentes setores, sendo o editorial um deles.
E com base nos textos do W3C afirmo que ganha força a criação de profiles para o Package Web Publication, ou seja, empacotamentos diferentes para setores com necessidades e padrões diferentes. E nada impede que o ePUB 4 seja o empacotamento do Web Publication direcionado ao mercado editorial.
Conclusão
Esse era o sopro de ar que o eBook precisava, para se libertar do empacotamento do IDPF, e assim ganhar a world wide web de forma estrutura, com padrões abertos mais consolidados, equilibrando a barganha com os demais players do mercado.
A iniciativa de integração do IDPF ao W3C faz mais sentido, ainda, devido ao trabalho similar com Progressive Web Apps. Projeto, também, baseado no Open Web Platform que elimina as diferenças entre sites e mobile apps.
É o começo de uma nova história e num breve futuro teremos Publicações Digitais, sem distinção entre eBook ou App, apenas conteúdos multimídia organizados em edições, periódicas ou não, com recursos de segurança, multiplataforma, acessibilidade, busca, anotação, entre outros – todos disponíveis esteja você online ou off-line.
Será um sonho? Talvez, mas não mais tão distante.
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